Pesquisa sobre mobilidade urbana mostra que Santa Catarina está longe de enfrentar o problema com seriedade
23 de novembro de 2011 16 Comentários
Foi apresentada nesta terça-feira, no auditório da ALESC, no Palácio Barriga Verde, em Florianópolis pesquisa do Instituto MAPA com o diagnóstico sobre a mobilidade urbana nas dez maiores cidades catarinenses, apresentado durante o 1º Fórum de Indicadores de Mobilidade Urbana.
Entre as sugestões do Instituto para melhorar a mobilidade nas cidades estão:
– Aumentar a qualidade do transporte coletivo, com tarifa atrativa, adequada à demanda;
– Restringir o transporte individual – automóvel – no uso diário;
– Criar alternativas seguras para circulação de pedestres e ciclistas
Após a apresentação desse diagnóstico, subiu à tribuna o governador do Estado, Raimundo Colombo. Falou sobre o aumento do número de automóveis nas cidades catarinenses, de 1,2 milhão em 2003 para 2 milhões em 2010. Citou o mapeamento dos acidentes, com o impressionante número de motocicletas envolvidas.
Por fim, chegando ao ponto onde eu quero chegar, citou as obras em andamento pelo Estado. Disse que carro ainda traz status e falou sobre as obras de duplicação e ampliação das rodovias. Nada sobre ônibus, nada para bicicleta. Só para automóveis. A despeito de rodovias serem consideradas vias rurais, Florianópolis possui 5 delas dentro de seu território, interligando bairros, algumas com características bastante urbanas.

Governador Raimundo Colombo fala sobre ampliação de rodovias durante Fórum de Indicadores de Mobilidade Urbana. Foto: Fabiano Faga Pacheco.
Poxa vida, isso chega a ser entristecedor. Um mapeamento tão completo, com os resultados indicando a necessidade em se limitar o uso do carro, mostrando que é necessário criar condições para que a real mobilidade urbana ocorra, com investimentos em transporte coletivo, bicicletas e pedestres, sendo ignorado pela autoridade executiva máxima de Santa Catarina!
As novas pistas são mais um chamariz para que novos automóveis ocupem o espaço urbano, congestionando-o. Os especialistas em mobilidade urbana são unânimes: a médio e longo prazo, novas pistas levam a maiores congestionamentos. Some-se a isto o esquecimento do transporte coletivo, como o verificado na SC-405 no Rio Tavares, onde está em construção uma nova pista. Os moradores protocolaram em 2008 manifesto em que almejavam que essa nova pista fosse destinada exclusivamente ao transporte público, condição à qual não se deu ouvidos ainda.
Foi uma pena o governador ter ido embora. Acabou perdendo a brilhante palestra de Ricardo Abramovay, professor da Faculdade de Economia e Administração da USP, e não pôde responder as duras críticas à sua fala feitas por José Roberto de Souza Dias, do Movimento Nacional pela Educação no Trânsito (MONATRAN).
Segundo ele, as lições do Elevado do Trevo da Seta deveriam ter sido aprendidas pelo Estado de Santa Catarina na construção da nova ponte: ela apenas vai deslocar o trânsito para dentro da Ilha e não vai resolver a mobilidade. Sugere, também, um plebiscito para que a população decida sobre a construção da nova ponte.
Como bem falou o governador, é preciso dialogar. Conforme pontuou, sobre a nova ponte serão oito meses, no mínimo, de discussões. Entretanto, ainda falta a contrapartida estatal para todos os demais diálogos necessários, seja na execução de ações efetivas, seja com a sua presença em Fóruns e reuniões. Exemplos dessa ausência são o Fórum das Américas sobre Mobilidade nas Cidades, realizado em 2010, no qual apenas nas saudações finais, as autoridades estaduais estavam presentes, na figura do atual Secretário de Desenvolvimento Regional da Grande Florianópolis, o então deputado Renato Hinnig (PMDB), além de representantes da deputada Ana Paula Lima (PT), tida como da oposição. Em 2011, o resultado do Fórum Internacional sobre Mobilidade Urbana foi mais vexatório ainda: nenhum tomador de decisão o acompanhou, apesar das ótimas palestras de especialistas internacionais.
Raimundo Colombo vai ser o primeiro governador catarinense a ter que enfrentar problemas crônicos de trânsito e transporte nas cidades grandes e médias do Estado. Vê-se, hoje, que ocorre queda de produtividade até nas cidades não conurbadas do Estado, devido aos problemas de mobilidade urbana. Esta é a hora de se tomar uma atitude que vai contribuir de fato para desatar o nó górdio do trânsito catarinense. São as ações que vão dizer, daqui alguns anos, se Colombo será o governador da imobilidade ou da atitude pró-ativa.
Ponta do Coral
Aproveita-se este espaço para que fiquem registrado casos curiosos que ocorreram na audiência pública subseqüente, que abordou as questões socioambientais relativas à Ponta do Coral. Ao sair do Fórum sobre Mobilidade Urbana, uma hora antes da audiência, adentrou o auditório da ALESC muita gente de repente. Ao questionarmos, disseram-nos que foram trazidos para lá para serem favoráveis a um empreendimento que se pretende implantar no local.
Do ponto de vista ambiental, comete-se o equívoco de ter um projeto pouco mais avançado do que o conceitual sem o estudo de impacto ambiental, uma vez que é o EIA/RIMA que deve orientar como vai ocorrer a ocupação do local sob o ponto de vista ambiental. Foram apontados problemas jurídicos importantes relativos à Secretaria de Patrimônio da União, além da apresentação do projeto de construção de um hotel 5 estrelas.
Nos debates, pôde-se perceber que, a qualquer manifestação contrária ao empreendimento que fosse inteligível aos ouvidos leigos, esse mesmo grupo comportava-se de modo demasiado pueril, tendo interrompido, sem necessidade alguma, alguns dos expositores e cidadãos que falaram ao plenário. Fizeram-se de ouvidos moucos em relação a aspectos que zelam toda a sociedade e que, se verdadeiros, são denegritórios a eles mesmos.
Ao final, um homem chegou perto da equipe técnica da obra e disse: “Foi uma surra”, referindo-se ao desrespeitoso apoio ao empreendimento manifestado por uma ruidosa platéia.
Ficam aqui essas observações para a história.
Triste!
Já escrevi em outros forums, e nesse vou repetir , falo sómente por Florianópolis (Ilha e Estreito) : Nunca respeitaram a identidade insular de Florianópolis, sempre a trataram e continuam tratando a ilha como se fosse continente, colocaram uma, e não satisfeitos várias pontes aqui, e ainda querem colocar mais . Nossa área é limitada, estamos espremidos entre morros e o mar, será tão difícil perceber isto ?!
Construir, aterrar, duplicar, triplicar, enfim ampliar, não é solução, nem a médio, muito menos a longo prazo, isso só serve para inaugurações populistas, e ter onde fixar placas comemorativas. Pensando assim o Sr governador está com uma batata quente nas mãos, e com toda a certeza, vai se queimar. Será lembrado na posteridade como o governador tampão, aquele que poderia ter feito, mas nada fez pela mobilidade urbana da ilha de Florianopolis, chamariz turístico de Santa Catarina.
Aterros, como o da na baia sul, e da costeira, são áreas imensas mal ocupadas e desoladas, simplesmete entregues ao tempo, sem cuidado, sem utilidade, reduto de desocupados. Agora querem aterrar o continente, para poder conter as 8 pistas da nova ponte, e mais edificações e parques , estacionamnetos , comércios e outras coisas, que fatalmente serão esquecidos e como os outros, abandonados. Não estou discorrendo sobre soluções, to metendo o pau nas más soluções, e naqueles que podem transformar, mas preferem continuar..
Os ônibus de outras cidades (são josé, palhoça, biguaçu, sto amaro) não podem mais entrar na ilha e ponto final, que faça um terminal grande em são josé para estas cidades e que seja também rodoviário, tudo num só lugar, com ambiente climatizado, com uti, com policiamento 24hs, estacionamento para carros, motos e bike, e que deste terminal ‘sairia’ o metrô de superficie para a Ilha num novo terminal (no lugar do famigerado centro sul), isto trairia maiores benefícios a todos os moradores da ilha, e também um pedágio sobre as pontes. Ponto final
Eu pessoalmente discordo em fazer os ônibus terem que parar no continente. Veja bem, se cada ônibus tiver, em média, 20 pessoas, provavelmente 15 delas, aproximadamente, terão que ir à ilha, e boa parte (cerca de metade) iria de automóvel, táxi ou amigos (que passariam a ponte na ida e na volta). Isso, portanto, pode prejudicar a mobilidade na ilha. Ônibus não é o vilão do trânsito. Gostei da idéia do terminal em São José. Já estacionamentos, isso é um problema. Ter vagas para estacionar é estimular pessoas a usarem o carro. Resultado: congestionamento. Devemos pensar em benefícios gerais e a médio e longo prazo.
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