1 ano sem Márcia

Homenagem à ciclista Márcia Prado, feita na última quinta-feira, 14 de janeiro, nas praias do Jardim Guilhermina, na Praia Grande, SP.

Fabiano Faga Pacheco

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Márcia Prado, presente! – Apocalipse Motorizado
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Uma justa homenagem – hoje, a rota cicloturística que leva os paulistanos ao mar leva o nome de Márcia Prado.
A última viagem com a Márcia – vídeo da última cicloviagem da Márcia, realizada apenas 3 dias antes do acidente.

Uma justa homenagem

Amanhã, sábado, 19 de dezembro, ocorrerá o primeiro teste oficial do que vai se tornar o primeiro percurso de cicloturismo do Estado de São Paulo. O projeto de lei que o institui já foi aprovado na Câmara Municipal paulistana e leva o nome de Rota Cicloturística Márcia Prado.

É uma justa homenagem à cicloativista Márcia Prado, que acabou morrendo após ser atropelada por um ônibus em plena Av. Paulista em 14 de janeiro deste ano. Três dias antes, um domingo, nós e mais 16 ciclistas fizéramos grande parte do percurso dessa rota, saindo da mesma estação Grajaú da linha esmeralda da CPTM, cruzando a represa Billings de balsa duas vezes, trasladando-nos pela Ilha do Bororé, que então sentia os primeiros impactos das obras do Rodoanel e adentrando a Estrada de Manutenção (ou Estrada de Serviço da Dersa).  Ousadamente, sinalizamos suas bifurcações, seus caminhos, suas entradas e saídas principais.

Com a nova sinalização, não havia mais como se perder nas bifurcações da Estrada de Manutenção.

Apesar de a Manutenção já ter sido planejada para, no futuro, virar um atrativo cicloturístico, a previsão não se concretizara. Ciclistas, pedestres, corredores, a nenhum deles foi planejada uma maneira segura de cruzar as escarpas entre a metrópole e o mar. Enquanto as opções “peabiríticas” lhes eram fechadas, surgiam na paisagem enormes obras de aço e concreto, destinadas ao meio mais ineficiente de locomoção.

Durante a sinalização, divertiamo-nos e imaginávamo-nos no futuro. Observávamos os detalhes da Estrada de Manutenção. Devaneávamos sobre os locais onde os ciclistas poderiam fitar a paisagem, contemplando-a. Sugeríamos pontos onde poderiam ser instalados paraciclos para os viajantes fatigados recomporem seus fôlegos em meio a uma refeição.

Um mirante para contemplar-se a natureza nos arredores da metrópole.

No fundo, pensávamos que tudo o que estávamos fazendo não era ainda para ser desfrutado em nossa geração, mas sim pela de nossos filhos e netos. Pensávamos vírgula. Alguém não achava isso.

– Eu vou poder descer de bike pela Imigrantes!

Márcia dissera, com todas as letras, que ela mesma teria o gosto de ver o fruto de nosso trabalho. Quase passamos a acreditar nisso quando, ao finalizarmos a sinalização, saímos pelo último acesso à Imigrantes e tivemos a pista toda só para nós (iria começar a Operação Subida, invertendo parte do sentido do fluxo de automóveis; foi bem nessa hora que reaparecemos na Imigrantes).

Márcia Prado em local por onde passará a Rota Cicloturística Márcia Prado. É uma das últimas fotos que tenho dela.

A última lembrança que tenho dela em vida foi retratada num quadro do Marcelo Siqueira, pintado enquanto descansávamos numa praia de Santos.

Três dias depois, vi-a pela televisão, recoberta por um saco negro, desfalecida, imóvel, sem vida. Ao seu lado, a mesma bicicleta e o mesmo capacete vermelho com os quais ela pôde ter a onírica sensação de que seus desejos – os nossos desejos – fossem virar realidade.

Hoje somos mais confiantes: eles realizar-se-ão.

No asfalto: "Futuro acesso". Profecia ou não, será por aí que adentraremos a Estrada de Manutenção no NIP Bike.

Fabiano Faga Pacheco

Saiba mais:

CicloBR >> Rota Márcia Prado

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Destak >> A história da Rota Márcia Prado

Clipping Rota Cicloturística Márcia Prado