Charge – Brava gente

charge - Will Tirando - Brava Gente Brasileira

A charge acima foi publicada no Will Tirando, do cartunista Will Leite, em 7 de setembro de 2013.

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Contexto político na época das primeiras Bicicletadas no Brasil

Nas recentes discussões para tornar mais atuante a União de Ciclistas do Brasil (UCB), Thiago Benicchio, que durante anos movimentou o site Apocalipse Motorizado, referência magnânima do cicloativismo brasileiro, compartilhou um artigo escrito por Felipe Côrrea para o Passa Palavra, no qual ele realiza uma análise crítica sobre a articulação de um movimento que pretendia ser a nova esquerda, mostrando as contradições de uma manifestação com traços internacionais, marcada sobretudo pelas conduções contra o capitalismo, perante os traços característicos das diversas comunidades.

Entretanto, é interessante encontrar em “Balanço crítico acerca da Ação Global dos Povos no Brasil”, artigo escrito em 6 partes, a referência a um movimento que até hoje ocupa as ruas de dezenas de cidades pelo Brasil e que teve um amplo crescimento após o auge da Ação Global dos Povos (AGP).

Confira abaixo alguns trechos selecionados e que podem contribuir para um melhor entendimento do início do movimento cicloativista brasileiro, em especial a Massa Crítica/Bicicletada [grifos e itálicos nossos]:

A Ação Global dos Povos (AGP) nasceu no início de 1998 e constituía uma “rede global de movimentos sociais de base originalmente criada para combater o livre comércio”. Não era uma “organização formal, mas uma rede de comunicação e coordenação de lutas em escala global baseada apenas em princípios comuns”.

Dentre seus princípios, pode-se destacar os seguintes: “1. A AGP é um instrumento de coordenação. Ela não é uma organização. Os seus principais objetivos são: (i) Inspirar o maior número possível de pessoas, movimentos e organizações a agir contra a dominação das empresas através da desobediência civil não-violenta e de ações construtivas voltadas para os povos. (ii) Oferecer um instrumento para coordenação e apoio mútuo a nível mundial para aqueles que resistem ao domínio das empresas e ao paradigma de desenvolvimento capitalista. (iii) Dar maior projeção internacional às lutas contra a liberalização econômica e o capitalismo mundial. 2. A filosofia organizacional da AGP é baseada na descentralização e na autonomia. Por isso, estruturas centrais são mínimas. 3. A AGP não possui membros. 4. […] Nenhuma organização ou pessoa representa a AGP, nem a AGP representa qualquer organização ou pessoa.” [Manifesto da Ação Global dos Povos]

[…]

No Brasil, a idéia da AGP chegou depois das manifestações de 1999 [o J18, durante reunião do G7 em Colônia, na Alemanha, e o N30, durante encontro da Organização Mundial do Comércio em Seatle, nos Estados Unidos], organizando-se pela primeira vez no estado de São Paulo em 2000, primeiro na Baixada Santista e na capital, no Primeiro de Maio, que poderia ser considerado como um ensaio do que seria o S26 (26/09/2000), marco da consolidação do movimento em solo brasileiro [em setembro, mais de 100 cidades do mundo protestaram contra os encontros do Fundo Monetário Internacional e do Banco Mundial em Praga, na República Tcheca].

[…]

O ano de 2002 foi marcado pela realização do 1º Carnaval Revolução, em Belo Horizonte, em fevereiro, e pelos protestos contra o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), em Fortaleza, durante o mês de março, com 5 mil pessoas nas ruas e com desdobramentos em São Paulo e Belo Horizonte. Um ano depois do A20, 2 mil manifestantes protestam novamente em São Paulo, entregando uma carta gigante, endereçada ao ministro da Fazenda, no Banco Central, com o dizer “ALCA nem fodendo” e assistindo a um documentário sobre o ato do ano anterior. Nesse contexto, realiza-se em São Paulo, no mês de agosto, a primeira Bicicletada, reunindo “ciclo-ativistas”. Ao final do ano, em 31 de outubro, 2 mil pessoas protestam em São Paulo contra a ALCA com um tour pelo centro da cidade e, no dia seguinte, 500 pessoas ocupam a Praça da República numa festa de rua contra a ALCA. Com o aniversário de um ano da revolta argentina de 2001 realiza-se, em São Paulo, como forma de solidariedade, teatro de rua, panfletagem e 15 ativistas ocupam o Consulado da Argentina, realizando um “panelaço” — ocorrem também protestos em Salvador.

Em fevereiro de 2003, 30 cidades brasileiras mobilizam-se contra a iminente Guerra do Iraque; em março, acontece o 2º Carnaval Revolução, em Belo Horizonte; em 7 de maio, ativistas ligados aos meios de comunicação ocupam a ANATEL em cinco capitais, pregando contra o fechamento de rádios livres. O ano também é marcado, entre os fins de agosto e início de setembro, por protestos de estudantes em Salvador contra o aumento no preço dos transportes, por uma mobilização contra a ALCA e por um encontro de rádios livres em Campinas, durante o mês de novembro.

[…]

No entanto, na construção do movimento havia um problema. As demandas culturais e identitárias deixavam pouco espaço para as questões políticas. O perfil dos “ativistas” — jovens, na maioria dos setores médios da sociedade, ligados à contracultura, muitos vegetarianos, estudantes de universidades públicas, escolas particulares alternativas etc. — facilitava a criação dessa cultura militante e de uma identidade coletiva que se refletiam em um determinado estilo de vida. Os assuntos de interesse, no que ia para além da política, aproximavam os ativistas, a idade, a classe de origem, o local de estudo, tudo isso naturalmente criava um perfil do movimento no país

[…]

Outro fator que se evidenciou em detrimento do político, priorizando o individual, foi a substituição do conteúdo pela forma. Prática bastante evidente hoje em dia, persuadiu parte significativa dos ativistas do movimento que, utilizando a máxima do “fazer da sua vida algo próximo de seus ideais” — um princípio bastante razoável, é verdade — passavam no campo pessoal à forma do “politicamente correto”, na mesma medida em que se afastavam do conteúdo político. Explico.

É uma característica relativamente comum incorporar elementos do âmbito pessoal, em vez de levá-los para fora, para o campo da mudança social. Exemplos disso são infindáveis, mas só para exemplificar, posso citar: passar a chamar os negros de afro-americanos e acreditar que o problema do racismo está resolvido; utilizar linguagem inclusiva e pensar que o problema de gênero está solucionado; consumir alimentos sem agrotóxicos e acreditar que o problema do agronegócio está resolvido etc. É fato que, também inconscientemente — nunca ouvi ninguém falar “vou priorizar o individual em detrimento do político” ou defender essa posição abertamente –, isso “simplesmente aconteceu”, tornou-se verdade prática sem uma reflexão teórica que lhe desse sustentação. Puxados por aquilo que na realidade é mais simples, ou seja, uma mudança no comportamento individual, os ativistas afastavam-se das atividades no campo social, evidentemente mais complexas, visto que elas implicavam conviver com o diferente, discutir, ter argumentos, persuadir — em suma, tudo o que implica a luta.

Durante o crescimento da AGP no Brasil evidenciaram-se diversos fatos nesse sentido. A cultura do “politicamente correto” era promovida, incentivando-se, ainda que tacitamente: utilizar linguagem inclusiva, ler somente mídia alternativa, ser vegetariano ou vegano, andar de bicicleta, optar pela vida coletiva (morar com amigos etc.), ter relacionamento aberto e/ou bissexual, não consumir produtos de grandes marcas ou de marcas que produziam em sweatshops, utilizar software livre, evitar os debates mais acirrados na forma etc. O ativista tinha de ser uma pessoa quase perfeita, sem todos os vícios da sociedade presente e buscar não se “contaminar” com tudo de errado que nela havia — fato que não deixava de herdar da contracultura certo costume de um vigiar o comportamento do outro. Apesar disso, nossa geração realizou poucas lutas contra a opressão de gênero, a grande imprensa, os matadouros, a discriminação sexual, a exploração dos trabalhadores da indústria automobilística, das corporações e dos sweatshops etc. Há diversos exemplos, mas quero insistir num ponto central: com o passar do tempo, o comportamento individual foi substituindo a política coletiva e a mudança do indivíduo passou constantemente a sobrepor a luta — a busca pelo modelo do “ativista perfeito e coerente” afastava-os da realidade e complicava ainda mais a interação com pessoas “normais”, diferentes portanto.

[…]

A teoria nos dá elementos importantes em termos históricos e conjunturais. Ela pode servir também para se conceber objetivos e caminhos a seguir, os quais, certamente, são mais estimulados por uma noção ideológica que teórica. A prática, por outro lado, verifica na realidade se as hipóteses formuladas pela teoria possuem lastro real e oferecem ótimas experiências para que se renove e se aprimore a teoria.

Portanto, uma nova esquerda não pode abrir mão de teoria e prática. As quais, por meio de uma interação dialética, fortalecem-se mutuamente, fazendo com que haja um aprimoramento mútuo. Com boa teoria se aprimora a prática e com boa prática se aprimora a teoria. Ambas devem caminhar juntas, num esforço de desenvolvimento e melhoria permanente.

Se por um lado há uma “urgência das ruas”, é inegável que grande parte das teorias da velha esquerda precisam ser renovadas. Teremos de “podar os velhos ramos”. Há uma urgência das ruas, mas também há urgências fora delas. E devemos reconhecer a “insuficiência das ruas”, quando essa prática não vem ancorada em um processo mais amplo de acúmulo real de forças e de um aprimoramento teórico, capazes de impulsionar amplamente as lutas e as transformações sociais.

Não se pode pregar a prática em detrimento da teoria ou vice-versa. Ambas devem usufruir da dialética entre uma e outra para um acúmulo de forças no sentido de modificar a realidade.

Alguns temas tratados nesta série de artigos, escritos entre julho e setembro de 2011, certamente permanecem atuais e devem servir para as manifestações de 2013 também refletirem sobre seu papel, suas ações e suas metodologias no contexto de hoje.

Interessante apenas notar que, a despeito haver certos resquícios da AGP na Massa Crítica de hoje, a exemplo de listas de e-mails na plataforma libertária (não no sentido liberal usado atualmente) RiseUp, a decisão feita de maneira horizontal, o coletivo sem líderes e não representando ninguém, algumas de suas contradições também se manifestaram, notadamente em São Paulo, em que ações agressivas individuais, sem serem coibidas pelos demais, para não ferir a arbitrariedade em um movimento sem lideranças, tomaram caminhos contrários aos ideais coletivos anteriormente propagados.

Em Florianópolis, local da segunda mais antiga Bicicletada do Brasil, contudo, as Massas Críticas vieram já ao encontro de uma estrutura cicloativista que já havia passado de sua fase embrionária, adquirindo características da AGP apenas após a retomada da Bicicletada Floripa, a partir de abril de 2008, com a importação do modelo que estava dando certo em São Paulo à época.

Desta forma, é importante os ciclistas de Florianópolis fazerem leituras críticas das potencialidades e limitações de suas ações, enxergando o que pode dar certo e não se utilizando de instrumentos que lhes façam desviar de seus focos, empreendendo esforços para o amplo diálogo entre os seus diversos atores de forma que a teoria e a prática caminhem juntas e em níveis saudáveis.

Charge – Olhos Vermelhos

charge - Will Tirando - Olhos vermelhos

A charge acima foi publicada no Will Tirando, do cartunista Will Leite, em 14 de junho de 2013.

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Catarinenses às Ruas: Ocupação do SETUF

O Movimento Passe Livre e a Frente de Luta pelo Transporte Público convocam hoje para o IV Ato pela Redução Imediata da Tarifa em Florianópolis, a partir das 16h no Terminal de Integração do Centro (TICEN), que desde já encontra-se ocupado pelos manifestantes.

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Leia abaixo a nota oficial da Frente.

MPL 2013-07-04Leia mais sobre o Brasil nas Ruas

Artigo: Anonymous afirma que não é contra os partidos

anonymous fuel br 2013-06-20

Sobre a situação atual da Anonymous e o Brasil
– Uma reflexão crítica da FUEL-BR –

Saudações, irmãos e irmãs!

Este texto é um pouco extenso, mas é essencial para que todos compreendam o que acontece atualmente em nosso país e porque precisamos do apoio de vocês.

Infelizmente, ao contrário do que propõe nosso ideal, “unidos como um e divididos por zero” tem sido uma realidade apenas em discurso. Muitos grupos estão fragmentados, muitas células ainda parecem competir por atenção do público ou para ter o maior número de curtidas. Isso não é apenas triste, isso é incoerente.

Quando decidimos compor a FUEL, foi numa perspectiva de aprofundar as pessoas na Ideia Anonymous e praticar um enfrentamento político e econômico que fuja do senso comum. Não acreditamos em quaisquer propostas rasas de “Fora Dilma” ou “Fora Alckmin”. Primeiro, porque o grande problema é o sistema corporativo por trás das figuras dos governantes. Você tira um, entra outro. E continua o jogo, a despeito de nossos esforços. E segundo, talvez mais importante, porque isso tem aberto margem para que muitos grupos peguem carona por trás de nossas máscaras em busca de interesses particulares.

Anonymous é apartidária. Isso não significa que somos contra os partidos, nem que devemos praticar medidas opressoras e ditatoriais como vaiar grupos e quebrar bandeiras, como tem ocorrido no país. Essa medida é injusta, e até ingrata. O Brasil pode estar acordando agora enquanto país, mas esses grupos já estavam em luta muito antes. Alguns deles, talvez, tenham sido indispensáveis no processo de construção da mobilização que vemos hoje.

Apartidário significa que não pertencemos a nenhum desses grupos, mas devemos estar unidos nesse momento, por um objetivo comum, que é reformar ou revolucionar toda a política desse país. Pensem, por favor, para além do raciocínio ingênuo. Não é por não levantar bandeiras que outros grupos não estão ali. É preciso ter foco, ou nosso discurso se torna vazio e reacionário, completamente oposto a toda a mobilização que vivemos.

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Algumas mídias Anonymous eventualmente veiculam conteúdos machistas, racistas, homofóbicos e até mesmo fascistas. Isso é inadmissível. Essas pessoas não compreenderam a Ideia e não são nossos irmãos, pois aquele que se coloca ao lado do opressor não pode estar ao lado do oprimido.

É chegado o tempo de escolher de que lado estamos. Se estamos do lado do povo, estamos juntos. Independente de etnia, de sexo, de crença, de orientação política, de gênero ou orientação sexual ou qualquer caraterística individual que seja. Porque é essa diversidade que compõe o povo.

Mas aquele que oprime um irmão não está com o povo. Aquele que busca reconhecimento pessoal dentro desse tipo de situação não é Anonymous.

Nosso comprometimento não é com crescimento a todo custo. Se você é um opressor, você não é Anonymous. Pedimos que olhe no espelho e antes de lutar contra a injustiça que você sofre, mude de postura quanto à injustiça que você pratica. E só assim estaremos juntos de fato. Só assim seremos um.

Convidamos para o diálogo todos aqueles que nesse momento coordenam projetos Anonymous ou se colocam a organizar manifestações, para podermos dialogar e buscar consensos.

O trabalho da FUEL não é o de direcionar, tampouco liderar ninguém. Todas as mensagens que recebemos perguntado “e agora, contra o que iremos lutar?” são respondidas com a mesma pergunta. Nossa proposta é a de formação livre. O povo está nas ruas, mas precisa entender sua política.

Aos poucos, publicaremos conteúdos sobre política, sobre o governo, sobre economia, sobre consumo, sobre cidadania. Esperamos que todos ajudem a compartilhar essas informações e se dediquem mais a estudar. Cyberativismo não se faz compartilhando qualquer coisa e enchendo tudo de hashtags. Cyberativismo inclui dominar o assunto pelo qual se luta. E se você não quer ser massa de manobra da mídia, não seja massa de manobra de ninguém, porque líderes em potencial, querendo manipular pessoas, estão em todas as esferas, e isso inclui, infelizmente, a Anonymous.

Iniciamos um trabalho de autovigilância da Anonymous, primeiramente pela União, como diz nosso nome. Em segundo lugar, pela emancipação, para que todos formem a própria opinião e sejam seus próprios líderes. E por fim pela liberdade, que será nossa conquista final, a partir da qual nascerá uma nova sociedade.

Por isso estamos incomodando. Por isso fomos atacados e nosso grupo está fora do ar. Por isso algumas pessoas com “grandes” páginas estão iniciando um processo de mentiras. Pedimos paciência a todos enquanto nos organizamos fora do Facebook. Esse espaço é excelente para divulgações, mas horrível para organização. E convidamos a todos para esse processo de amadurecimento, porque estamos sendo vigiados e podemos sair do ar a qualquer momento. E se dependermos do Facebook, nossa mobilização será fraca e vulnerável, mais do que já é.

Aqueles que estão conosco, por favor, ajudem a compartilhar. Em breve, novas notas.

Publicamos para quem não tem preguiça de ler e se informar. Parabéns se você chegou até aqui. Pessoas que querem informação rápida e rasa estão na contramão da revolução que vivemos.

Curtam nossa página e mantenham-se próximos, os que concordarem com essa perspectiva. Faremos versões para comunicação com Anonymous e outros movimentos sociais no exterior em breve. E em poucos dias começaremos a compor nossa biblioteca digital livre.

União, Emancipação e Libertação!
Nós somos Anonymous.
Nós somos FUEL.

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Se quiser ler o Manifesto FUEL-BR:
http://migre.me/f4wQE
Se quiser saber mais sobre a Anonymous:
http://migre.me/f4slb
Fan page AnonFUEL:
https://www.facebook.com/AnonymousFUEL

Artigo: Diferentes visões das manifestações no Brasil e Convocação por um Novo Brasil Plural e Internacionalista

O Brasil está passando por um grande desafio de dimensão nunca vista antes, a respeito disso, quero dar minha visão a respeito dos acontecimentos, interpretando as diferentes visões principais atuantes e como todas têm suas positividades e limitações, sendo o desafio maior o diálogo com as outras visões e a busca por soluções integradas que possam mudar o país para muito melhor (se isso não ocorrer, a tendência é que com a estagnação política, econômica e social piore cada vez mais):

OBS: Esse texto é fruto do aspecto urgente da situação, portanto não há tempo para revisões maiores, nem há abertura para se ter medo de se expor. Se eu não considerasse que poderia trazer vários elementos ricos para reflexão e ação não teria perdido meu tempo fazendo. Não tenho necessidade de ter meu nome citado como autor e dou liberdade para que o texto seja compartilhado com o maior número de pessoas possível.

Esse texto não é para gente BURRA (aproveitando o meme), não no sentido puramente instrucional, mas mais profundo; não servirá para quem não deseja mudanças e não tenta compreender o que está acontecendo de maneira mais ampla. Muito menos para pessoas que não aceitam outros pontos de vista que sejam dissonantes dos seus.

Notem que tentei mostrar as visões de acordo com suas respectivas formas de linguagem e tentando criticá-las através de suas principais motivações (espero ter conseguido de forma razoável). Também admito que posso errar em vários pontos ou que as possibilidades possam ser diferentes das apontadas pois tenho apenas o meu ponto de vista, que sempre será limitado pelas minhas vivências, mas espero adicionar mais elementos à discussão e estimular muitas pessoas a pensarem em novas formas de pensar na questão e em formas de agir em relação a isso.

Você pode ler esse texto de diversas maneiras, de forma a economizar seu precioso tempo sem ler o que já sabe e/ou se informar apenas de acordo com o que for mais relevante no momento. Aqui coloco as possibilidades de que tipo de leitor você é no momento e que direcionamentos você pode fazer:

A – Você é de esquerda e não quer que ocorra um neofacismo. Vocês são essenciais para uma mudança positiva, mas talvez sejam os que precisam ler todos os tópicos para poderem realizar ações estratégicas mais efetivas. Dêem especial atenção às visões pós-modernas e às críticas à esquerda.

Guia numérico dos trechos: 2, 3, 4, 5, 6, 9, 10, 11, 12, 14, 15, 16, 17, 18.

B – Você é de direita e não quer que ocorra um neocomunismo ou neofacismo. Considero que vocês são a maior parte das pessoas no Brasil atual, tendo grande potencial para mudanças positivas, assim como para negativas. Alguns tópicos são essencialmente importantes, como sua relação com a visão pós-moderna, a visão da esquerda e da direita mais conservadora.

Guia numérico dos trechos: 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 9, 10, 11, 13, 14, 16, 17, 18.

C – Você não se identifica com nenhum dos lados e acredita que a modernidade está em crise e está ocorrendo uma grande mudança que caracteriza os tempos pós-modernos. Vocês podem estar certos nessa visão otimista, mas viram apenas a luz no fim do túnel, o problema é que para não nos asfixiarmos dentro desse túnel precisaremos andar bastante! Sugiro que leiam a visão da esquerda, as relações dos pós-modernos com as outras visões e as críticas aos pós-modernos, para assim poderem tomar ações a respeito das manifestações. As recompensas das mudanças não cairão do céu, pois essas dependem de ações pessoais e coletivas para ocorrerem!

Guia numérico dos trechos: 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10, 11, 14, 16, 17, 18.

D – Você não tem idéias políticas teóricas bem formadas, mas acredita em grandes mudanças no país, sendo possível uma transformação do sistema atual. Se você tem real intento em ajudar nesse momento histórico e urgente do país, terá que ler todo o texto e mesmo que não entenda todos os conceitos, tente pegar a idéia geral.

E – Você quer ter uma compreensão maior de toda a minha visão dessa questão (talvez tenha escolhido por uma das letras anteriores e então decidiu se aprofundar e adquirir mais elementos para reflexão e ação). Leia tudo e tente se informar mais sobre os temas colocados, consultando as referências e conhecendo os livros que citei.

F – Você se considera conservador e considera que ditaduras podem funcionar. Nesse caso, pense numa característica SUA que poderia vir a ser reprimida ou não aceita em uma ditadura… você poderia vir a ser preso, morto, talvez perder amigos ou familiares. Uma ditadura pode ocorrer sobre novas roupagens e com novos tipos de repressões, nunca se pode duvidar que você possa ter uma característica que pode ser considerada inaceitável por uma ditadura futura… coloque-se no lugar de outras pessoas também, você deveria lembrar que é apenas mais um indivíduo da espécie humana, todos os outros são iguais a você e seus irmãos nesse quesito. Você está dentro de um mundo com vários outros seres vivos (humanos ou não) que dependem de você e os quais você também depende. Leia os trechos 3 e 9.

1 – A visão atual da maioria da esquerda: A esquerda em geral acredita que os movimentos devem manter o foco nas tarifas, no passe livre e talvez no transporte público como um todo, uma vez que os movimentos começaram a partir das reinvindicações em São Paulo, organizadas através do MPL – Movimento Passe Livre. A importância do foco em uma única pauta está relacionada à necessidade de ganhos reais, trazendo sucesso para as manifestações. Múltiplas pautas nas manifestações poderiam levar a uma diluição das manifestações e perda total de efetividade dessas, uma vez que nenhum objetivo seria focado o suficiente para ser realizado. Muitas reivindicações da mesma forma têm sido genéricas demais para que se visualize um objetivo a ser conseguido através da manifestação. A Esquerda também tem expressado a todos o perigo do nacionalismo vinculado ao antipartidarismo nos movimentos, que aliados à possibilidade de um golpe de estado no país, possivelmente com impeachment da Dilma e ascensão de partidos de direita e conservadores, poderá ocorrer uma espécie de neofascismo no país. Essa análise de conjuntura pode ser considerada muito alarmista, mas a meu ver pode estar bastante próxima da realidade, mesmo que a um prazo muito maior que o considerado. Se o país se mantiver em estagnação, cada vez mais serão pensadas medidas extremas com visões conservadoras para conter a liberdade dos habitantes e manter o controle em prol das superelites.

2 – O perigo de um neofascismo: Algumas providências atuais corroboram a tese de um possível golpe de estado, como a PEC 33, que une o legislativo ao executivo, a aprovação das manifestações pelas mídias de massa(um aspecto muito curioso que merece maior atenção), introduzindo ideais de nacionalismo ao movimento. O apartidarismo poderia ter se originado do aspecto inicial das manifestações, já que o MPL é apartidário, mas o aspecto das manifestações tomou um caráter antipartidário, que é contra os partidos, o que seria congruente com governos ditatoriais. Porém boa parte do crescimento do movimento foi com a indignação contra a repressão violenta de policiais nas manifestações, portanto é contraditório que muitos apoiem os militares e suas repressões anteriores. Hoje, porém, podemos perceber que meios de reprimir muito mais sutis existem (e sempre existiram), através de idéias, leis, valores… ditaduras podem continuar existindo com força grandiosa, mesmo que com novas roupagens e meios de ação. Além disso, contextos hostis que incitem o medo nas pessoas facilitam a aceitação de repressões; para muitos a situação atual do Brasil tem se tornado bastante hostil.

3 – A visão e ações da direita conservadora: A direita mais conservadora provavelmente é a que tem incitado o nacionalismo extremo, criou as propostas da PEC 33 e a 37, tem articulado retrocessos nos direitos humanos, nas relações com o meio ambiente e em outras áreas, mas se poderia também esperar que uma esquerda conservadora poderia fazer o mesmo. Esses retrocessos podem ajudar a propiciar o ambiente hostil que incita o medo e facilita a aceitação de ideologias repressivas. Nesse ponto, não se pode duvidar que os setores mais conservadores tenham simpatia por ditaduras. Boa parte dessa direita são as superelites do país, incluindo políticos. Apesar da posição conservadora, essa não corresponde à sua visão real, pois possuem ampla visão a respeito das outras visões e podem ser capazes de manipular diferentes grupos do país; seu objetivo é manter a exploração e domínio mental aos níveis maiores possíveis, se aproveitando disso para manter seu senso de superioridade e desejo de poder. Pode-se então considerar que a direita conservadora de classe baixa, média e mesmo alta, é em grande parte dominada por essas superelites e funciona como marionete para atender aos interesses dessa em troca de migalhas (em relação à real quantia econômica pertencente a essas superelites). Eles se sentem superiores assim como seus chefes, mas não são por eles assim considerados, podendo ser substituídos a qualquer momento.

4 – A visão atual da direita moderna: A direita moderna também pode ter motivações relacionadas tanto ao impeachment da Dilma quanto à expulsão de vários deputados e senadores. Ela tem incentivado o nacionalismo pois ele foi muitas vezes importante para a competição econômica global. Como o país está atravancado em vários aspectos estruturais, o que tem trazido uma perda de competitividade perante os países desenvolvidos e outros BRIC’s (sendo que a China está se tornando uma superpotência), se evoca por mudanças na forma de se gerir a política. Essa ala também não simpatiza com a ditadura (nesse caso muitas vezes interpretado como a possibilidade de um neocomunismo), pois acredita na conquista da democracia como um dos maiores marcos da humanidade, que facilita também o livre-mercado e a liberdade de consumo, mas condições desconhecidas e hostis podem vir a transformar integrantes da direita moderna em direita conservadora, pelo medo de conservar o que seria essencial para a nação manter seu desenvolvimento.

5 – A visão atual dos pós-modernos: Os pós-modernos ou pós-críticos (que se recusam a se denominarem por direita ou esquerda) estão mais otimistas em perceber o fortalecimento de manifestações através da internet, trazendo às ruas visões das mais variadas possíveis; diferentes tribos em catarse, nas ruas em relativa harmonia e reivindicando por mudanças. Muitos deles consideram que as mídias hoje possuem opiniões mais diversificadas e a internet, que é a mídia com maior potencial de desmassificação de opiniões, poderá trazer mudanças na política, nos direitos humanos e em todos os setores da sociedade. Portanto, os movimentos possuem uma diversidade de pautas que podem todas serem atingidas desde que sejam harmônicas entre si. O apartidarismo seria importante como forma de negar a forma arcaica de se fazer política, principalmente no caso dos partidos eleitorais, pois são meios de massificar opiniões e subjugá-las a visões estáticas. Os partidos ainda têm o problema de seguirem interesses econômicos, políticos e sociais próprios, visando o bem do partido muitas vezes em detrimento do bem da comunidade, cidade, região, estado, país, mundo…

6 – Relação entre direita moderna e pós-modernos: Nesse sentido a direita moderna tem concordado e possivelmente todos deveriam concordar, mas a direita muitas vezes fortalece esse discurso para poder evitar que o movimento, que surgiu a partir de organizações de esquerda, tenha propagandas dos partidos de esquerda. Assim, podemos perceber uma relação de interposição entre a visão da direita moderna e dos pós-modernos, assim como a visão pós-moderna possui elementos de convergência com o pensamento da esquerda. O problema é que a esquerda não tem conseguido distinguir a visão pós-moderna da visão da direita, juntando as duas em uma só e prejudicando sua análise de conjuntura das manifestações, o que traz um pessimismo grande demais e perigoso para um possível sucesso dela própria.

7 – Críticas ao otimismo pós-moderno: As visões otimistas dos pós-modernos, por sua vez, deixam de perceber as relações de poder existentes na política atual, ou dão menor importância a esses dois poderes originários da visão moderna e que são ainda existentes no país e no mundo com grande vivacidade, podendo não vir a se extinguirem, pois envolvem aspectos primordiais que continuarão existindo – a direita e a esquerda. Já direita e esquerda parecem não ter entendido a possibilidade de diferentes visões que não caiam na dicotomia que elas próprias sustentam. Para entender melhor as críticas que coloquei e colocarei aos pós-modernos, sugiro o livro “Depois da Teoria: Um olhar sobre os Estudos Culturais e o pós-modernismo”, que é de um professor de Teoria Cultural.

8 – Relação entre esquerda e pós-modernos: O país passa sim por tentativas de golpe de estado, principalmente por parte da direita mais conservadora, embora a natureza do que virá não precise necessariamente ser de posição de direita. Ao mesmo tempo, a esquerda percebe isso e busca focar os movimentos apenas através do transporte, o que se torna impossível dada a indignação massificada e relacionada aos mais diversos setores (e suas políticas de administração) do país, falta a ela a visão mais diversificadora dos pós-críticos, em uma sociedade que não se resume a uma dicotomia direita-esquerda e com a ascensão da internet como uma das principais mídias que informam a população e que é consideravelmente desmassificada. Já aos pós-críticos, falta o senso realista de contar com a importância de mídias de massa, como a televisão, que ainda possui relativa predominância, e de considerar que existem pistas que podem sim indicar um golpe de estado, através de poderes que são bastante materiais e muito importantes, como leis, ações governamentais e medidas econômicas. Mudanças culturais benéficas para toda a população podem não ser o suficiente para evitar um golpe se não houver ação por parte da população em vários setores, além das manifestações e internet. As manifestações devem clamar por ações e, a partir disso, lutas por medidas de mudança devem ser feitas pelas pessoas,

Indo além das manifestações, que podem ser revigoradas pelo sucesso de algumas causas, um aspecto alimentando o outro em retroalimentação positiva. As pautas porém precisam tratar tanto causas urgentes e de retorno de pequeno prazo quanto medidas que proporcionem mudanças estruturais profundas nas instituições do país, que tragam retorno de médio a longo prazo.

9 – A conclusão irônica: Todos estão na realidade querendo maior participação nas decisões políticas, através de democracia direta, e as manifestações organizadas demonstram isso, menos os setores conservadores que estão querendo desvirtuar o movimento e estão conseguindo com sucesso. O irônico é que, apesar de cada visão colocar como primordial uma causa para esse fenômeno das manifestações, essa explosão que ocorreu é fruto tanto do acaso quanto da indignação da direita moderna com as repressões, da realidade tecnológica propiciada pela internet e Facebook e das lutas organizadas por melhores condições da esquerda moderna. Por fim o aspecto exponencial das manifestações, com possibilidade de grandes mudanças, que aqui coloco, foi incitado por dois agentes diametralmente opostos em seu objetivo: a direita conservadora e agentes internacionais de libertação e atualização. A direita conservadora tem levado e pode levar ainda mais a respostas que a beneficiam, apesar da maioria das visões atuais serem contra repressões e atualmente abominar a possibilidade de uma ditadura. Já os agentes internacionais são as exigências por reestruturações institucionais que estão colocadas para todos os países da atualidade, inspirações internacionais por transformação, vindos de grupos internacionais que atuam pela internet, como o Anonymous e Zeitgeist (entre muitos outros), grandes acontecimentos de libertação que tem ocorrido no mundo com ajuda da internet, como a independência do Egito, além de diversos autores bem intencionados de diferentes países que têm tentado realizar leituras abrangentes da realidade envolvendo diferentes teorias; esses agentes clamam por (e instrumentalizam para) novas formas de se fazer política nos países e mudanças em todas as instituições e outros aspectos da sociedade. Não podemos dizer que sabemos que as mudanças devem ocorrer, mas não sabemos como fazer. Devemos utilizar a criatividade e se utilizar de todos os instrumentos já disponíveis, eles são mais que o suficiente para se criar mudanças. Para isso a comunicação com diversas pessoas e a harmonização de conflitos intelectuais precisa ocorrer e se tornar hábito.

10 – A inspiração que pode vir de fora: Movimentos globais que são principalmente conhecidos pela internet, como o Anonymous e Zeitgeist, buscam libertação dos mais diversos países do sistema opressor e arcaico atual, instigando as pessoas a participarem das manifestações e até conduzindo uma parcela da população do Brasil no momento. O movimento Anonymous, que se inspira no filme “V de vingança” e no personagem criado, com sua agora tão conhecida máscara, acredita na transformação radical da sociedade através da destruição das velhas instituições. O aspecto internacional do movimento é importante, pois trata como iguais todos os habitantes humanos do planeta (também considerando a importância do ambiente e dos outros seres vivos). Os ideais propostos podem ser de grande importância para o momento do Brasil atual. Poderia-se discutir se é necessário uma destruição radical das instituições como são hoje ou se podemos realizar reformas que conservem o nome e a função primordial dessas, mas transformando a forma como elas funcionam, o que me parece mais razoável.

11 – O dilema do estrangeiro altruísta ou a farsa da direita conservadora: O movimento Anonymous brasileiro, apesar de seus ideais bastante nobres (próximos aos do Zeitgeist), elencou 5 causas que seriam as mais importantes no momento para se focar nas manifestações, para que não sejam manifestações caóticas que não poderão atingir objetivo algum em razão do número muito grande de objetivos. Essas causas porém apenas trazem reformas simplórias para momento atual, ou são reivindicações muito genéricas, que não podem necessariamente trazer mudanças mais concretas por não haver objetivo definido palpável. Eles ainda consideraram que essas causas seriam de desejo de todos que querem mudanças, porém desconsiderou as decisões da esquerda a respeito das manifestações. O movimento ainda tem dado importância ao nacionalismo brasileiro e o apartidarismo, como forma de valorizar o país, o que pode ser perigoso dadas as situações atuais, vindo a fortalecer a possibilidade do golpe de estado, com considerável aprovação da população. Podemos presumir que o movimento funciona como um agente externo de inspiração, mas que não possui conhecimento profundo do contexto histórico brasileiro nem das necessidades específicas do país. Isso poderia ainda ser justificado pela possibilidade do movimento brasileiro ter sido cooptado pela direita conservadora, trazendo pautas que estão descaracterizando as manifestações.

12 – Crítica à rigidez da esquerda e sua teoria crítica: A esquerda, ao considerar importante que as manifestações foquem em sua causa primeira, a tarifa de ônibus, perdem de utilizar o potencial exponencial das manifestações atuais para reivindicarem por reformas políticas de maior escala, que seriam de grande valia tanto para a esquerda, quanto para a direita mais liberal e os pós-modernos. Talvez ela cogite essa possibilidade, mas sua rigidez ideológica em querer uma sociedade com uma forma radicalmente diferente de economia e política a impede muitas vezes de pensar em mudanças de médio prazo (ainda bem radicais) que não fossem completamente condizentes com seu modelo teórico, mas que poderiam trazer mudanças congruentes com suas ideologias em longo prazo. Com isso, a esquerda está contribuindo com a possibilidade que tanto abomina; uma ditadura da direita, pois quer diminuir a explosão do movimento para ser capaz de controlá-lo, provocando assim sucessivas evoluções, quando justamente é o momento propício para uma revolução no país (porém esta não seria igual à idealizada por muitos grupos de esquerda, por exemplo através da ditadura do proletariado, revoltas violentas que acabariam por subjugar os outros a suas ideologias). Mas a esquerda deveria lembrar que seu desejo em comum é (ou deveria ser) a qualidade de vida mais ampla e justa para todos os seres humanos do planeta (e já é momento de pensar nisso para todos os outros seres vivos também).

13 – A crítica à direita moderna e seu contentamento com as visões clássicas modernas: A direita moderna, da mesma forma lida com a mesma dificuldade; muitas vezes desconhece as possibilidades de democracia direta e tem medo de que as exigências sociais e ambientais colocadas pela população atravanquem o desenvolvimento do país, colocando barreiras para o livre-mercado. Porém, o livre-mercado é a principal ideologia da qual a direita precisará se desfazer (nesse sentido, o livro “23 coisas que o capitalismo não contou para você” de um economista capitalista, e “Governação inteligente para o século XXI: a via intermediária entre Ocidente e Oriente” de um investidor e filantropo alemão e norte-americano são livros que mostram como o capitalismo na verdade tem tido graves problemas e crises em razão do livre-mercado). Assim, da mesma forma, a direita moderna tem contribuído para a possibilidade de engessamento do desenvolvimento do país (mesmo que em vez de um golpe de estado apenas sejam trocados todos os políticos e algumas leis sejam feitas, o país ainda não terá condições de lidar com seus problemas e os vindouros). – livros citados estão nas referências.

14 – Necessidades e possibilidades para o Brasil – Um Novo Brasil Plural e Internacionalista: O que o país precisa (aliás, todos os países estão precisando atualmente e alguns já estão o fazendo) é de reformas em suas instituições, começando pela política: como funciona o executivo, o legislativo e o judiciário. As eleições representativas não são as melhores formas de criar governos para os habitantes desse país (nem para o povo, nem para os grandes empresários, talvez apenas para as superelites que não pensam além de seu umbigo, incluindo a maior parte dos políticos atuais). As decisões atualmente são tão complexas e envolvem tantos aspectos que os antigos governantes não são mais aptos para tomarem as principais decisões, na realidade, o número de governantes deve ser aumentado e sua estrutura de relações diferenciada. Deve haver maior relacionamento com a população, principalmente com os grupos mais atingidos por tal decisão. Essas novas formas de se fazer política podem ser realizadas através da criação de representantes desses grupos, eleitos pelos participantes desse, cuja formação principal precisam ser de uma variedade de especialistas no tema, ativistas de grupos relacionados a esse e de atingidos pelo tema em questão. Esses representantes devem trazer as pautas e posições de cada grupo para a resolução das principais questões que envolvam diferentes grupos. Essa forma de democracia direta é apenas um bom exemplo de como poderia ser feito, e ela poderia se articular com a democracia indireta como a conhecemos desde que essa perdesse ainda assim boa parte de seu poder atual. Essas novas formas de democracia podem se articular com novas ferramentas que podem ser feitas para envolver a população através da internet, por votações online, por exemplo, que poderiam auxiliar na escolha dos participantes de cada grupo temático. Essas mudanças deveriam passar por todos os poderes: Legislativo, Executivo e Judiciário, mas me parece que no Legislativo seria o mais essencial e urgente no momento. As nações no futuro poderão se extinguir, pois a tendência é que ocorra maior regionalização, com independências de regiões e estados e formação de nações próprias, até o ponto das separações políticas como as conhecemos atualmente sejam dissolvidas, com novas denominações e delimitações sendo priorizadas. (nesse sentido, o livro “A Terceira Onda”, além dos dois citados no trecho 13, trazem conclusões semelhantes). As regiões se articularão com macrorregiões através das novas formas de democracia, da mesma forma as macrorregiões poderão se articular entre si buscando soluções globais para problemas do planeta. Representantes indiretos poderão apenas realizar o que foi decidido democraticamente de forma mais direta por um grupo maior de pessoas, que por sua vez tenham sido elegidos por terem forte envolvimento com o tema. Assim, questões locais poderão ser resolvidas por parcelas diretamente representativas da população, enquanto problemas de ordem macrorregional ou global serão discutidos por instituições regulamentadoras maiores, mas que ainda dependerão das menores intensamente.

15 – O ideal é utópico, mas as mudanças que o tornem mais próximo são possíveis, porém nunca se adequarão perfeitamente ao ideal pré-estabelecido; flexibilidade como essencial para a sobrevivência da esquerda: Enquanto a direita terá de abrir mão do livre-mercado, a esquerda, por sua vez terá que abrir mão de visões mais utópicas de socialismo, como o comunismo, a ditadura do proletariado e o fim da propriedade privada (embora haja muitas possibilidades de coletivização parcial de meios de produção, através de grandes cooperativas), mas deverá perceber a possibilidade de transformar o capitalismo tradicional em híbridos entre capitalismo e socialismo libertário (como as vertentes de anarquismo social e marxismo libertário). Esses híbridos podem trazer modelos inteiramente novos de política e economia, cada um desses com aplicações diferentes que podem funcionar em um local e em outro não; dadas as diferenças ambientais, culturais e de relações com outros locais. Nesse sentido, o movimento autônomo, ou autonomismo, deve vir a influenciar as diferentes vertentes de esquerda.

16 – Aliando teorias pós-críticas às críticas (da esquerda) para verdadeiras mudanças: Os pós-modernos possuem facilidade em se adaptar às novidades híbridas que poderão (ou deveriam) ocorrer em todas as instituições e formas de política. O que falta em boa parte deles é relacionar o que pode vir de novo com o que já está colocado; não se pode fazer mudanças a partir do nada e mesmo novas possibilidades precisarão ser testadas e ajustadas. A negação da dicotomia direita-esquerda pode ser benéfica mas também maléfica, pois no jogo de relações da sociedade atual ainda possui essa dicotomia de forma predominante, principalmente na área da política. Além disso, o foco deles tem sido geralmente em áreas diferentes da política e relações de poder duros, pensando sempre nas formas sutis (conhecimento, cultura, sexualidade, entre outros), mas não nas relações estruturais mais materiais. A visão pós-moderna pode ter muito a contribuir para a atualidade, mas assim como as outras possui o perigo dos excessos e de se considerar mais importante que as outras visões, quem a segue deve seguir o princípio por ela própria estipulado de que teorias são apenas visões da realidade e não podem constituir a realidade inteira e as visões estão sempre se construindo, mudando, recriando. Outro problema está no enfoque das diversas partes, onde se toma uma atitude celebratória da diversidade, mas sem muitas vezes relacionar as partes, levando a uma fragmentação extrema, quando só uma visão mais sistêmica pode trazer soluções para muitos dos problemas mais amplos atuais, nesse sentido, é necessário a todos adquirir maior consciência ecológica e sistêmica (uma das lições que devemos aprender com o Oriente, enquanto eles aprendem, ou já aprenderam, com a análise e categorização). – novamente os três livros já citados se complementam para trazer essa crítica aos pós-modernos

17 – A verdadeira luta: é por um Brasil que seja mais atualizado e adquira a capacidade de se auto-atualizar no mundo de hoje, que possa se desenvolver melhor tanto em termos econômicos, políticos e tecnológicos, quanto em termos sociais, culturais e ambientais, podendo trazer maior distribuição de renda, direitos de minorias respeitados e maior qualidade de vida da população em geral, sabendo ainda se posicionar perante outros países, criando relações de verdadeira cooperação, em vez de apenas relações mercantis, assim como realizando protecionismos na medida do necessário, contribuindo assim para uma sociedade global mais harmônica e ecológica. De um lado da luta podemos colocar a esquerda moderna, a direita liberal, os pós-modernos e os agentes internacionais de mudança e libertação. Do outro lado estão os conservadores de direita (ou de esquerda, talvez mesmo de centro) e por trás dos planos de repressão estão as superelites nacionais e internacionais que buscam manter seu poder supremo. Essa luta é um ponto de inflexão no país, precisamos passar por esse processo de avanço drástico que nos está proporcionado, num processo de expansão de consciência, adotando nesse sentido o paradigma sistêmico, sem deixar de analisar as coisas, mas pensando em diferentes fatores e pontos de vista e relacionando-os, conseguindo assim soluções que envolvem todos eles e sejam mais amplas e efetivas. Se não fizermos isso, poderemos ser subjugados em uma ditadura no país, processo que pode vir a ocorrer em outros países, pois uma vez a decepção extravasada para outros países poderia vir a estimular retrocessos ao redor de todo mundo. Convoco a todos, das mais diferentes visões a lutar por um Novo Brasil Plural e Internacionalista!

18 – Referências: Minha visão atual veio através de uma maneira muito variada e esquisita de relacionar conhecimentos (assim como é a forma de se adquirir visões de cada pessoa dentro desse contexto atual das manifestações).

Considero como referências: as leituras de opiniões divergentes no facebook, conversas com pessoas de opiniões divergentes, notícias as mais variadas possíveis e por fim, o mais respeitável, mas não necessariamente mais importante; livros que tentam compreender o espírito de nosso tempo:
– “A Terceira Onda” de Alvin Toffler
– “O futuro do poder” de Joseph Ney
– “23 coisas que não contaram pra você sobre o capitalismo” de Ha-Joon Chang
– “Governação inteligente para o Século XXI: uma via intermediária entre Ocidente e Oriente” de Nicolas Berggruen
– “Depois da teoria: Um olhar sobre os Estudos Culturais e o pós-modernismo” de Terry Eagleton

Por A.M.B.*

* A.M.B. é bacharelando pela Universidade Federal de Santa Catarina e também estudante de Relações Internacionais.

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Catarinenses às ruas: Nota do Movimento Passe Livre Florianópolis

  1. O Movimento Passe Livre, com apoio da Frente de Luta pelo Transporte, convoca para a próxima terça-feira, 25 de junho, um ato em caráter de ultimato à prefeitura do Sr. César Souza Júnior (PSD) pela Redução Imediata das Tarifas do Transporte Coletivo, seguindo o exemplo de 50 cidades do país, entre elas 14 capitais.

  2. Reivindicamos também o estabelecimento de uma agenda de curto e médio prazo visando o barateamento sistemático das tarifas, rumo a Tarifa Zero no transporte público, instituindo um grupo de trabalho de caráter deliberativo, nos moldes do que foi estabelecido no Distrito Federal, envolvendo também os municípios da região metropolitana.

  3. O MPL reafirma que nenhum Edital de Licitação que a prefeitura venha a lançar que mantenha o REGIME DE CONCESSÃO para exploração do transporte por empresas privadas, resolverá o dilema que envolve o acesso amplo à cidade.

  4. Esclarecemos que as manifestações organizadas pelo MPL e pela Frente não comportam qualquer atitude de intolerância, sendo pautadas pelo espírito democrático e de respeito a todas as organizações políticas, sejam elas partidárias ou não.

  5. Reconhecemos a queixa legítima de manifestantes que não se sentem representados pelo sistema político eleitoral, mas não aceitamos qualquer retrocesso nas conquistas democráticas. Foi na Ditadura Militar que os partidos foram proibidos. Partidos e movimentos sociais são parte do processo democrático e só foram possíveis em um regime de abertura, graças à luta contra a Ditadura Militar.

  6. Chamamos a responsabilidade da Prefeitura de Florianópolis em abrir o diálogo e apresentar soluções concretas ao movimento que hoje toma as ruas da cidade.

Florianópolis, 21 de Junho de 2013.

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Link original

Vídeo da primeira manifestação de Florianópolis

Confira abaixo alguns dos momentos da primeira manifestação por uma nova lógica do transporte público em Florianópolis.

A edição é da nossa parceira ciclista Michelle Franzoni, do Blog da Mimis.

Saiba mais sobre as manifestações em Florianópolis aqui.

Catarinenses às ruas: ciclistas usam do bom humor nas redes sociais

A manifestação desta quinta-feira em Florianópolis, que tem como um dos motes predominantes a Tarifa Zero para o transporte coletivo, vai contar com a participação de ciclistas da cidade, quase também almejam um debate sobre a mobilidade urbana e as formas de se acessar a cidade.

Aproveitando as vantagens de se pedalar perante o uso indiscriminado do transporte motorizado individual, circularam pelas redes sociais alguns cartazes bastante curiosos, como o de baixo, que alude ao fato de que de bicicleta já se tem passe livre, já que não se paga para se deslocar. O Movimento Passe Livre é um dos principais apoiadores da manifestação desta quinta-feira, dia 20.

De bike sem tarifa

Sobre lembrete de baixo: o amanhã já é já já! 😉

MPL Bike 2013-06-20

http://tarifazero.org/

Hoje vai ser maior: Catarinenses às ruas

Está marcada para hoje, 20 de maio, o segundo Ato Por um Transporte Público de Qualidade, manifestação que pretende levar milhares de pessoas às ruas de Florianópolis.

Diversos fatores estarão em pauta e ecoarão pelas ruas da região central da capital catarinense. O principal deles: o direito à cidade, principalmente na forma de uma outra lógica de se lidar com o transporte na cidade.

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Vários coletivos também estarão presentes nessa manifestação. Notadamente, a Marcha das Vagabundas Florianópolis (versão local para a Marcha das Vadias) far-se-á presente, apresentando também. Esse coletivo tem se empenhado ultimamente contrário ao Estatuto do Nascituro, por prever restrições às mulheres sobre as decisões em seu próprio corpo.

Quanto aos ciclistas, participantes da Bicicletada Floripa estarão lá também. Saindo da pista de skate da Trindade a partir das 17h, devem estar na porção dianteira do percurso da manifestação. Além das melhorias no transporte coletivo, empunharão também bandeiras da integração intermodal, à destinação de pistas cicláveis nos espaços públicos e ao estímulo ao pedalar.

A manifestação, sem líderes, é uma chamada do Movimento Passe Livre e da Frente de Luta Pelo Transporte Público. Ao contrário do que diz a grande mídia, não é em si um ato contra a corrupção nem contra os gastos da Copa do Mundo o mote da manifestação de hoje em Florianópolis. Segundo seus participantes, “é óbvio que ninguém é a favor da corrupção”, apenas não é um dos focos da passeata desta quinta-feira.