2 de agosto de 2009
por bicicletanarua
A edição deste domingo, 02 de julho, do Diário Catarinense está imperdível para quem gosta de pedalar! São quatro páginas inteiras dedicadas à bicicleta no encarte Donna DC. A matéria, que você confere abaixo, encontra-se nos seguintes links: {1} {2} {3} {4} {5} {6} {7}. Você também pode ler o conteúdo em .pdf: {capa}, {págs. 8 e 9} e {pág. 10}.
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Bom para a saúde, o trânsito e o ambiente. Pedalar é um hábito com cada vez mais adeptos, como Maurício Lima (à frente) e Elyandro Modro. Foto: Ricardo Duarte.
Vá de MAGRELA
Dar boas pedaladas faz bem para a saúde, para o trânsito, para o meio ambiente e pode ser uma fonte de prazer e alívio ao estresse.
Numa tarde fria de domingo, com um vento daqueles de rachar os lábios, o empresário Fabrício Sousa Aragão, 32 anos, nem pensa em ficar em casa, na preguiça. Como todos os dias, faça chuva ou sol, ele veste luvas, equipamentos de segurança e roupa confortável para ter prazer. É esta a sensação provocada por umas boas pedaladas, que ele costuma praticar na parte continental da Capital e cidades próximas, como Antônio Carlos. Com a bicicleta, o empresário encara a friaca sem fazer cara feia.
– O problema é a sensação térmica. Com a velocidade, o vento se torna mais intenso. Mas eu nem sei dizer por que eu pedalo. É por prazer, alivia o estresse – afirma.
Mesmo que a bicicleta seja um veículo individual, um outro motivo que estimula Fabrício a pedalar são os amigos. O empresário participa do grupo Mountain Bike Floripa, ou MTB Floripa, onde divide com empresários, advogados, promotores e outros profissionais o hábito de treinar para competições amadoras.
– A gente não só pedala, mas sai para jantar depois. Fazemos amizades nos grupos – diz Fabrício.
Os grupos, aliás, aparecem como uma alternativa aos que não se sentem seguros para pedalar sozinhos, seja por conta da criminalidade ou devido ao trânsito intenso. Há turmas para quem está mais ou menos preparado, para casais e até um exclusivo para mulheres (veja box).
O programador Elyandro Modro, 36, e o amigo Maurício Lima participaram da fundação do Floripa Bikers, em fevereiro, grupo que reúne entre 15 a 40 ciclistas por saída.
– Em grupo é mais legal e mais seguro, tem aquele compromisso. Às vezes você não está a fim, mas sabe que um monte de gente estará esperando por você, então acaba indo. E em grupo o risco diminui. Pedalamos uniformizados, então, quando os carros veem as bicicletas, parece que nos respeitam mais, sentimos essa diferença – constata Elyandro.
Um vício positivo
No Floripa Bikers há turmas para iniciantes e casais que não têm ritmo de atleta. Uma das participantes é a mulher de Elyandro, a professora de dança Alessandra Lemos Modro, 34. Atividade física, lazer e a companhia do marido foram as razões que a levaram às pedaladas há um ano. A dona de casa Márcia Lemos, 32 anos, integra o grupo desde fevereiro e é viciada nos pedais.
– Não vejo a hora de chegar quarta-feira, dia em que a gente sai.
Na mesma tarde fria de domingo, o estudante Caio Sérgio dos Santos, 15 anos, não hesitou em praticar suas habilidades com a magrela, na pista de skate da Beira-Mar de São José. Saltando e pedalando até de costas, o menino usa o veículo de duas rodas para quase tudo: ir à escola, passear, praticar esportes.
Morador do Bairro Ipiranga, acha que não precisa de ciclovia e se sente seguro para pedalar. Sem professor nem técnico que o ensine as acrobacias, competiu uma única vez na categoria iniciante, num campeonato em Itajaí, no mês passado. Resultado: Caio não caiu da magrela nem por decreto e ganhou o primeiro lugar na competição.
Caio dos Santos, 15 anos, usa a bicicleta como meio de transporte, além de fazer acrobacias e competir. Foto: Daniel Conzi.
Pedala, Floripa
O uso da bicicleta como meio de transporte está crescendo nos países desenvolvidos, como constata o diretor da ViaCiclo, André Geraldo Soares. Estimular esse tipo de uso no Brasil é o objetivo das associações de ciclousuários e, mais recentemente, do poder público.
O governo federal, por meio do Ministério das Cidades, lançou em 2004 o programa brasileiro de mobilidade por bicicleta – Bicicleta Brasil – que, entre outras atribuições, incentiva o uso da magrela como meio de transporte, integrando-a aos equipamentos públicos já existentes.
A exemplo do que acontece na Holanda, na França, no Canadá, na Espanha, na Alemanha, entre outros países desenvolvidos, Florianópolis terá este ano um sistema de bicicletas públicas, que serve para o deslocamento de uma estação à outra. Quem afirma é a arquiteta do Ipuf, Vera Lúcia Gonçalves da Silva:
– Será feita uma licitação este mês e, até o final do ano, as bicicletas estarão nas ruas. Num projeto preliminar, haverá 28 estações, a começar pelo Centro da cidade em pontos estratégicos, como a Avenida Hercílio Luz – garante.
Será criado o Portal da Bicicleta, um site no qual o interessado se cadastrará para optar por um dos planos, que pode ser de um dia, seis meses ou um ano. O sistema será automatizado e você poderá liberar o veículo pelo celular.
Mais 10 km até o fim do ano
No Rio de Janeiro, já existe o sistema desde o final do ano passado. Com o simpático nome de Samba – Solução Alternativa para Mobilidade por Bicicletas de Aluguel –, o sistema conta com cerca de 80 bicicletas, com previsão de chegar a 500 até o final do ano, e 19 estações. O cadastro do usuário pode ser feito pelo site http://www.mobilicidade.com.br. Há planos de R$ 10 para um dia de uso, R$ 30 para uma semana e outros para seis ou 12 meses.
A estrutura cicloviária na Capital conta com 24 quilômetros em ciclovias (separadas das vias) e ciclofaixas (pintadas no solo). Até o fim do ano serão 34 quilômetros, pelas contas da Secretaria de Obras. Mas somente a estrutura não basta para garantir a segurança do ciclista. Vera reconhece que a cultura automobilística diminui o cuidado com a parte mais frágil do trânsito, no caso, os ciclistas e pedestres. A prefeitura distribuiu em algumas escolas folderes explicativos sobre as regras de trânsito, mas a formação não pode parar por aí.
– É necessária uma educação contínua. Só a lei penalizando não adianta. Estamos construindo essa política, fazendo parcerias com outras secretarias e a sociedade civil, sem a qual não se implementa nada na cidade – afirma a arquiteta.
– A solução passa pela sinalização, uma interface entre campanha educativa e estrutura. O Conselho Nacional de Trânsito está preparando um manual de sinalização de ciclovias. E a educação tem que começar na escola. Na Holanda, as crianças fazem teste de habilitação, assim como tem para carros – compara Soares.
Faça frio ou calor, Fabrício Sousa Aragão não dispensa as pedaladas diárias, uma fonte de prazer para o empresário. Foto: Daniel Conzi.
Falta um empurrãozinho
Pedaladas em busca de lazer e atividade física. Esse, em geral, é o rumo dos ciclistas que circulam pela Capital. Não há uma pesquisa abrangente com a população de Florianópolis sobre o perfil do ciclista e os motivos que levam ao uso da bicicleta. O que existe são estudos pontuais, como o que o Instituto de Planejamento Urbano de Florianópolis, o Ipuf, realizou no Bairro Ingleses em 2006, antes da instalação da ciclovia no local. Outros dados foram colhidos por organizações não-governamentais, como a Associação dos Ciclousuários da Grande Florianópolis, a ViaCiclo, durante eventos na cidade.
É fácil perceber que a maioria dos ciclousuários da Capital usam a magrela para o lazer e atividade física. O uso como meio de transporte, geralmente nos balneários e bairros afastados, fica em terceiro lugar e as principais razões apontadas são: falta de estrutura para a bicicleta e de educação no trânsito.
Elyandro e Joaquim. Foto: Daniel Conzi.
– Às vezes vou ao trabalho de bike, mas não é seguro. A cidade não é preparada para a bicicleta – percebe a professora de dança Alessandra Lemos Modro.
– Quando eu morava em São José dos Campos (SP), usava, mas aqui não dá. As ruas são muito estreitas, o trânsito é perigoso – lamenta o empresário Fabrício Sousa Aragão.
Concorrência motorizada
O educador e diretor-administrativo da ViaCiclo, André Geraldo Soares, constata que há uma demanda reprimida, ou seja, muitas pessoas estariam dispostas a fazer uso da bicicleta ou aumentar sua frequência se houvesse condições propícias.
– Falta estímulo e, ao mesmo tempo, há o antiestímulo, que é a promoção da modalidade motorizada. Há uma cadeia produtiva, estrutura política e econômica no país que promove o carro como meio de transporte, associando-o a fatores culturais, como status, poder, diferenciação social – afirma, ao exemplificar a publicidade que vende carros e os incentivos como redução de impostos.
– As pessoas acham que não são benquistas se estão de bike. Na Europa é o contrário. É uma mobilidade moderna e sustentável, que desafoga o trânsito e preserva o meio ambiente – constata o educador.
Alessandra, Elyandro, Joaquim Esteves e Márcia são parceiros de pedalada. Foto: Daniel Conzi.
Bom pra você
Melhora o condicionamento físico
Previne doenças
Aumenta a força e a resistência muscular dos membros inferiores
Melhora o humor e a disposição
Em grupo, favorece a sociabilização (importante para estimular o exercício, em grupo motiva muito mais)
Bom pra todos
Baixo custo financeiro para os cofres públicos
Diminuição das mortes e mutilações no trânsito
Melhora do estado físico e psíquico dos cidadãos
Representa economia doméstica para as famílias
Preserva a qualidade de vida da cidade
Deslocamento individual autônomo
Reduz a poluição sonora e do ar
Fontes: Udesc, ViaCiclo (2008) e Sandro Lemos, personal trainer
OS GRUPOS
Bicicletada – Versão de Floripa do movimento nacional. Ciclopasseatas pela cidade que reivindica melhores condições para as bicicletas no trânsito, toda última sexta-feira do mês (www.bicicletada.org)
Floripa Bikers – promove pedaladas semanais para níveis iniciante, médio e avançado (www.floripabikers.com.br)
Saia de Bike – passeio ciclístico para mulheres, promovido pelo Ipuf em parceria com a ViaCiclo (www.viaciclo.org.br)
Fonte: ViaCiclo
PARA LER
Bicycle Diaries – O ex-líder da banda Talking Heads, David Byrne, inspirou-se na magrela para lançar seu mais novo livro, Bicycle Diaries. Byrne vive em Nova York e declara fazer uso da bicicleta como principal meio de transporte. O livro reúne as observações do músico sobre o ciclismo nas diversas cidades do mundo por que passou, abordando moda, política, planejamento urbano, arquitetura, entre ou-ros temas. A publicação sairá em agosto no Reino Unido e setembro nos Estados Unidos
PERFIS DE CICLISTAS
ViaCiclo – a maioria dos associados têm entre 20 e 35 anos, nível superior, pedalam em média 50 km por semana por razões diversas e têm foco na bicicleta como meio de transporte
Ipuf (pesquisa realizada no Bairro Ingleses, na Capital) – Boa parte (35%) trabalha em empresa privada, tem segundo grau completo (45%) e usa bike para lazer (67%), compras (65%) e ir ao trabalho (36%)
– A bicicleta é o segundo meio de transporte mais usado pela população (65%), atrás do transporte público (82%)
– Pesquisa feita com homens e mulheres de 14 a 65 anos entre 18 a 20 de março de 2006
CICLOVIAS
Total em Floripa: 24.073 metros
Avenida Beira-Mar Norte e Via Expressa Sul (Costeira): 15.906 metros
Canasvieiras (Avenida das Nações): 1.202 metros
Ingleses: 2.105 metros
Avenida Hercílio Luz: 1.439 metros
Agronômica (Rua Frei Caneca): 2.821 metros
Itacorubi (SC 404): 600 metros
Em execução: 10.400 metros
Campeche (Avenida Pequeno Príncipe): 2.600 metros – só falta sinalização
Rio Tavares (SC 405): 1,2 mil metros – previsão de um mês para conclusão
Ponta das Canas (Avenida Luiz Boiteux Piazza): 2 mil metros – previsão para dois meses
Ribeirão da Ilha (Rodovia Baldicero Filomeno): 4,6 mil – previsão para o final do ano
Fonte: Secretaria Municipal de Obras de Florianópolis
Curiosidades
Cycle Chic (www.copenhagencyclechic.com) – um movimento iniciado em Copenhagen, na Dinamarca, pelo blogueiro Mikael Colville-Andersen. Cineasta, jornalista e fotógrafo, desde 2007 ele publica fotos de pessoas estilosas andando de bicicleta. Escreveu um manifesto defendendo que o ciclismo deve ser encarado como algo natural e prático. Com preceitos sérios, poéticos e divertidos, o manifesto prega a preferência ao estilo e não à velocidade.
Museu da Bicicleta (www.museudabicicleta.com.br) – conhecida como a Cidade das Bicicletas, Joinville conta com um museu exclusivamente dedicado à magrela. É considerado o único do gênero na América do Sul, tem mais de 16 mil peças no acervo, com destaque para a vitrine de faróis composta por peças a partir do século 19, uma bicicleta Peugeot 1952 com aros de madeira, uma Durkopp 1934 equipada com eixo cardan (sem corrente), um riquixá indiano todo pintado à mão e uma Rivera 1956, projeto nacional, com suspensão sobre molas nas rodas dianteira e traseira, uma inovação tecnológica espetacular para o período. O museu fica no Complexo Ferroviário de Joinville, Bairro Atiradores, junto à Praça Monte Castelo, zona Sul da Cidade. Contato pelo telefone (47) 3455-0372 ou e-mail: museudabicicleta@terra.com.br.
Por Alícia Alão
Saiba mais:
Uma aliada da boa saúde e do ambiente – reportagem do Diário Catarinense fala sobre bicicleta, saúde, mobilidade urbana, cultura, legislação e dá dicas a quem quer se iniciar no ciclismo urbano.
Manual do Ciclista de Florianópolis – baixe aqui o guia “Pedalando em Florianópolis – Manual do Ciclista”.
Florianópolis ganha novas ciclovias – conteúdo do jornal laboratório Zero fala sobre as mais recentes obras executadas ou em andamento para melhorar a infraestrutura ciclística na capital catarinense.